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Estudo vê espaço aberto para os biocombustíveis

21 junho 2021

O Brasil tem potencial para produzir biocombustíveis suficientes para cobrir até 72% da demanda por combustíveis usados em carros leves e 54% das vendas de diesel esperadas até 2030 sem desmatar nem ocupar áreas de produção de alimentos. A conclusão é de um estudo do WWF-Brasil, que estimou o potencial de crescimento da produção dos renováveis, considerando o avanço de lavouras como soja e cana em áreas que hoje são ocupadas por pastos degradados. Os percentuais poderão ser ainda maiores se forem utilizadas fontes alternativas de biomassa, como palma e macaúba. Nesse caso, a oferta de etanol substituiria até 78% da demanda pelo ciclo Otto e 58% da demanda por diesel. O estudo traçou dois cenários possíveis de aumento da produção de culturas “energéticas”, mas sempre levando em conta que essas lavouras não devem avançar sobre vegetação nativa nem ocupar áreas que o próprio Ministério da Agricultura já estimou como necessárias para a produção de alimentos até o fim desta década. Em um primeiro cenário, que considera o avanço da produção de biocombustíveis apenas de soja e cana, o estudo concluiu que a oferta, ao substituir os combustíveis fósseis, seria capaz de evitar a emissão de 242 milhões de toneladas de gás carbônico por ano até 2030, de acordo com o critério do programa RenovaBio, que analisa todas as emissões associadas da produção ao consumo. No critério do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que segmenta as emissões em outras categorias, a conta da economia de emissões iria para 350 milhões de toneladas de gás carbônico por ano até 2030. Se o Brasil optar por uma redução mais efetiva das emissões, com a substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis, um caminho melhor seria recorrer a mais matérias-primas, como palma e macaúba. Nesse segundo cenário, a expansão dessas culturas sobre áreas hoje ocupadas por pastos degradados, que se daria em paralelo com o avanço da soja e da cana, a oferta de biocombustíveis decorrente seria capaz de evitar a emissão de 281 milhões de toneladas de carbono ao ano até 2030, pelo critério do RenovaBio – ou 406 milhões de toneladas, segundo o IPCC. O cálculo dos potenciais de oferta levaram em conta que há hoje 36 milhões de hectares com pastos degradados que poderão ser “liberados” para a agricultura se houver intensificação da pecuária e desocupação para outras atividades. Dessa área “excedente”, 11 milhões de hectares devem ser reservados ao avanço da produção de alimentos, conforme projeções oficiais, e os demais 25 milhões de hectares estariam “disponíveis” para o cultivo de culturas “energéticas”. Na divisão dessa parte das terras, o estudo adotou como premissa para o primeiro cenário (que mantém o perfil da produção atual) a estimativa de que 80% da área iria para a soja e 20% para a cana. Com isso, a produção de etanol (de cana e de milho), que na safra 2018/19 alcançou 34,8 bilhões de litros, poderia chegar a 58,1 bilhões de litros no fim da década. Por sua vez, a produção de biodiesel poderia sair dos quase 5 bilhões de litros de 2018/19 para 52,6 de litros (dos quais 16 bilhões viriam da soja). E a produção de bioquerosene, hoje pouco significativa, iria a 8,9 bilhões de litros. No segundo cenário, a projeção é que macaúba e palma ocupem 15% da área potencial, com avanço também da cana em relação à primeira estimativa, para prever uma oferta maior de biometano. Nessa hipótese, a produção de etanol iria a 65,3 bilhões de litros em 2030; a de biodiesel, a 56,8 bilhões de litros, e a de bioquerosene, a 20 bilhões de litros. Quanto à demanda esperada até 2030, os cálculos tomaram como base as estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no Plano Decenal de Energia para 2029. As projeções foram ajustadas para cima diante da expectativa de crescimento de 2,5% para 2030, e para baixo diante da estimativa de impacto de 5% decorrente da pandemia. O WWF-Brasil também pondera que o cenário de eletrificação das frotas de veículos rodoviários para substituição dos combustíveis fósseis tem se mostrado cada vez mais viável (ver matéria abaixo). Em suas recomendações de políticas públicas, a organização defende que os biocombustíveis sejam usados como solução de “transição” para o Brasil alcançar suas metas no Acordo de Paris e que, no médio e longo prazos, tenham um papel de “nicho” – como o bioquerosene na aviação e no transporte marítimo, nos quais, hoje, a eletrificação não é economicamente viável. Fonte: Grupo Idea