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Agronegócio deve adotar proteção cambial para se precaver contra possíveis perdas em 2021, diz PwC

19 junho 2020

O agronegócio brasileiro ganhará peso na economia brasileira em 2020, menos afetado pela pandemia do novo coronavírus do que outros setores. No entanto, é preciso que os empresários do setor tomem precauções para evitar perdas em 2021, segundo um estudo da consultoria PwC Brasil obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. Diante do elevado nível de incertezas que dificulta projeções, as empresas do agronegócio deveriam investir em instrumentos de hedge, medidas de proteção contra oscilações na taxa de câmbio, defendeu Maurício Moraes, sócio e líder de agribusiness da PwC Brasil. “O agro tem um certo hedge natural, porque você tem as importações de alguns produtos como fertilizantes que podem ser afetados pelo dólar, mas também tem muita exportação em dólar. Então, tudo que indica que o aumento do dólar favoreça. Mas é importante que as empresas trabalhem na política de risco cambial. Porque as datas entre quando compra e quando vende são distintas, às vezes o dólar pode estar muito apreciado agora, e quando vende, futuramente estar menos apreciado. Ou o próprio preço de vendas dos produtos, das commodities, podem estar menos apreciados”, justificou Moraes. O especialista lembra que a retração da economia mundial prevista para 2020 pode afetar os preços das commodities no ano que vem, enquanto a queda na renda tem potencial para prejudicar bens de maior valor, que podem ser substituídos por outros mais baratos na cesta de consumo. “Não existe dúvida de que a economia mundial em 2020 vai retrair. E quando ela retrai em 2020, os efeitos passam para 2021. Não quer dizer que em 2021 vá ter uma nova retração. Acho que não, porque a recessão desse ano vai ser muito relevante, mas leva um reflexo para 2021 com certeza, sobre preços de commodities e renda”, frisou o líder de agribusiness da PwC Brasil. Moraes lembra que num contexto de retração econômica, as pessoas perdem emprego e renda, o que pode comprometer o poder de consumo. “Acho que alimento, o agronegócio, tende a ser menos afetado. Porque com menos recurso, menos renda, mesmo assim as pessoas precisam se alimentar. Porém, talvez tenha que fazer decisões de migrar para produtos com custo menor. Tem que ter uma precaução”, disse ele. “É um cuidado que o agro tem que ter neste momento, porque hoje os preços estão bons, mas amanhã, com todo esse contexto de economia mundial, pode afetar os preços das commodities no mercado internacional. E no mercado local também pode haver migração de consumo para produtos mais acessíveis”, completou, mencionando possíveis substituições, por exemplo, de proteína bovina por aves e frangos, que são mais baratos. Em meio ao cenário sem precedentes, o estudo da PWC recomenda que as empresas do agronegócio trabalhem com um plano estratégico de ações pós-pandemia. Em 2020, soja e suco de laranja seguem fortes, enquanto etanol começa a se recuperar do baque provocado pela queda na cotação do petróleo e da demanda. O estudo lembra ainda que o isolamento social estimula a demanda por produtos que permitem um tempo de armazenamento maior, como milho trigo e café, mas impacta negativamente as cadeias de perecíveis, como frutas, legumes, flores, carnes e lácteos. O algodão também foi prejudicado, com paralisação de fábricas têxteis e ganho de competitividade de fibras sintéticas devido à queda na cotação do petróleo. “É uma crise, é ruim, mas cabe ao Brasil mais uma vez o protagonismo de poder alimentar o mundo. Isso vai se tornar algo positivo para 2021, onde os países que precisam de alimentos brasileiros vão buscar aumentar sua relação com o Brasil. Espero que 2021 seja ainda mais positivo para o agro brasileiro nesse aspecto, porque, com tudo isso que está acontecendo, vem se posicionando fortemente como provedor de alimentos para o mundo. Isso é importante porque já era e reforça sua capacidade de continuar fazendo”, opinou Moraes. O sócio da PWC vê possibilidade de aumento de medidas protecionistas pelo mundo, ao mesmo tempo em que reverbera a repercussão negativa sobre a condução da crise sanitária do novo coronavírus no Brasil e sobre as políticas ambientais do governo federal. “Pode ter sanções, pode ter barreiras, a gente tem que trabalhar para reduzir isso, isso não é bom. Por outro lado, acho difícil os países simplesmente pararem de comprar do Brasil, porque eles precisam do produto. O que pode é dificultar, colocar alguma tarifa no processo, mas acho que ainda tem muita estrada pela frente, porque o Brasil ainda vai continuar muito preponderante nisso”, estimou. Fonte: O Estado de S. Paulo