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EM ANO DE SAFRA RECORDE, DISPUTA COMERCIAL FAVORECE EXPORTAÇÃO
15 janeiro 2019Apesar do início tardio do semeio, a temporada 2017/18 de soja registrou produção superior à anterior. Ainda assim, de acordo com informações do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, os preços se sustentaram ao longo de 2018, influenciados pelo intenso ritmo das exportações da oleaginosa e dos derivados. As vendas externas, por sua vez, foram favorecidas pela disputa comercial entre os Estados Unidos e a China.
O cultivo da safra brasileira foi iniciado em ritmo lento, devido ao tempo seco no Centro-Sul. Por outro lado, o clima favoreceu o desenvolvimento das lavouras, o que, somado ao maior nível tecnológico, resultou em maior produtividade e em produção recorde – de 120,3 milhões de toneladas, 5% acima da temporada anterior e a maior do mundo, segundo o USDA.
Os Estados Unidos, por sua vez, colheram 120,03 milhões de toneladas na temporada 2017/18 (colheita ainda em 2017), 2,7% a mais que na safra passada. Já a Argentina (terceiro maior produtor mundial de soja) teve forte quebra na produção, totalizando apenas 37,8 milhões de toneladas de soja, 17,2 milhões de toneladas (31,27%) a menos que na temporada anterior, de acordo com o USDA. Com isso, a oferta mundial na temporada 2017/18 somou 339,46 milhões de toneladas, 2,81% inferior à de 2016/17.
No Brasil, os prêmios de exportação para soja em grão estavam operando na casa de 60 centavos de dólar por bushel em meados de fevereiro/18 para embarque em maio/18. A partir de março, os prêmios subiram de forma mais intensa, chegando a US$ 2,00/bushel no início de abril, para o produto a ser embarcado maio/18. Com a greve dos caminhoneiros no final de maio, os prêmios ganharam ainda mais força, inclusive puxado pela boa demanda externa, atingindo, em julho, a casa dos US$ 2,70/bushel para embarques em setembro/18, outubro/18 e novembro/18.
Por outro lado, os preços na Bolsa de Chicago (CME Group) despencaram ao longo de 2018, diante da menor demanda chinesa pelo produto norte-americano. A situação foi se complicando com a chegada da colheita da temporada 2018/19 – os valores externos registraram o mínimo em setembro/18. A partir de então, houve ligeira recuperação, e os preços se sustentaram em dezembro, após uma trégua entre Estados Unidos e a China, quando o país asiático retomou as compras de soja norte-americana.
No geral, as exportações brasileiras foram favorecidas, com embarques expressivos inclusive no último trimestre do ano, o que não é comum. Em 2018, o Brasil embarcou 83,86 milhões de toneladas de soja, um recorde, 23% acima do volume exportado em 2017, segundo dados da Secex. Do total embarcado em 2018, 82,4% tiveram como destino a China. A receita total obtida pelas vendas do grão foi US$ 33,29 milhões, 29,5% a mais que a recebida em 2017.
Os embarques de farelo de soja também foram recordes em 2018, totalizando 16,89 milhões de toneladas, 19,2% acima do volume do ano anterior, ainda de acordo com a Secex. Os principais compradores de farelo do Brasil foram Holanda, Tailândia e a Coreia do Sul. A receita obtida pelas vendas externas do farelo de soja foi de US$ 6,7 milhões, 34,9% superior à de 2017.
Referente ao óleo de soja, os embarques somaram 1,34 milhão de toneladas de janeiro a dezembro, aumento de 9,7% frente a 2017. O recebimento pelas vendas externas deste derivado foi de US$ 956,52 mil, 4,8% superior ao de 2017, segundo a Secex.
Produtores brasileiros, atentos ao contexto externo, se retraíram nas vendas do grão, na expectativa de ganhar uma parcela dos mercados argentino e norte-americano. O desinteresse nas vendas levou muitos deles a apoiarem a paralisação de caminhoneiros, que aconteceu nas últimas semanas de maio. A greve prejudicou as transações nacionais e o abastecimento interno, interrompendo o processamento de indústrias.
Nesse cenário, produtores pecuários que precisaram de farelo se viram diante de valores bastante elevados – em maio, a margem de lucro da indústria foi a maior em três anos, de US$ 75,66/tonelada. Com isso, demandantes passaram a adquirir apenas lotes pequenos do derivado de soja, ao passo que a indústria teve dificuldades em comprar o grão, diante dos elevados preços dos fretes. Assim, em outubro, a margem de lucro da indústria foi a menor em três anos, passando a ficar negativa, em US$ 21,36/tonelada.
Na média das regiões pesquisadas pelo Cepea, o valor médio do farelo de soja subiu 29,8% de 2017 para 2018, e o do óleo de soja, expressivos 4,1%. Quanto ao grão, a média do Indicador da soja ESALQ/BM&FBovespa Paranaguá foi de R$ 84,43/saca de 60 kg em 2018, 18,4% acima do de 2017. O Indicador CEPEA/ESALQ Paraná teve forte alta de 18,6% no mesmo comparativo, com média a R$ 78,55/sc de 60 kg em 2018. Ambas as médias anuais dos Indicadores são as maiores desde 2016, em termos reais (IGP-DI de novembro/18). Na média das regiões acompanhadas pelo Cepea, as cotações da oleaginosa subiram 18% tanto no mercado de balcão (preço pago ao produtor) quanto no de lotes (negociações entre empresas).
Fonte: CEPEA