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ESCASSEZ DE CAFÉ DE QUALIDADE ATINGE FUNDOS E FAZ PREÇOS SUBIREM

10 dezembro 2019

Operadores e analistas afirmam que a escassez é um importante fator por trás do salto nos contratos futuros do arábica na ICE, que catapultaram cerca de 25% desde meados de outubro, em meio a uma disputa pelos estoques certificados pela bolsa de arábica lavado ou de qualidade. Os estoques caíram de 2,5 milhões de sacas em março para 2,1 milhões, com as colheitas na América Central, Colômbia e Peru, principais fontes do café arábica lavado, caminhando rumo a um início lento, enquanto a oferta de arábicas semi-lavados do Brasil permanece ajustada, em meio a problemas com a qualidade da última safra. O salto nos preços afetou especuladores. Os mais recentes dados do CFTC mostram que eles já cobriram cerca de 85% das posições líquidas vendidas que mantinham no início de setembro, de mais de 50 mil lotes, ajudando a abastecer o recente rali das cotações. O arábica semi-lavado do Brasil geralmente pode ser substituído pelo café lavado, mas os problemas de qualidade levaram a uma oferta escassa neste ano, apesar da abundância geral de arábicas não lavados. Em Honduras, os arábicas lavados estão com um prêmio de cerca de 6 centavos de dólar sobre os futuros na ICE, ante um desconto de cerca de 4 centavos em janeiro, o que impede que operadores entreguem o estoque à ICE, onde não obteriam um prêmio. Honduras representa menos de 10% da produção global de arábica, mas compõe mais de três quartos do estoque certificado pela ICE e, dessa forma, possui um impacto desproporcional sobre os preços futuros. “Para os produtores, o Natal chegou mais cedo”, disse um operador com base na Suíça. “As torrefadoras podiam procurar origens menos expressivas (de arábica), que normalmente têm um desconto (em relação aos futuros), mas não mais. Todos os arábicas lavados subiram, apesar de os futuros em Nova York também avançarem”, acrescentou. Operadores afirmam que os arábicas lavados colombianos possuem um prêmio de cerca de 32 centavos sobre os futuros da ICE, contra 16 centavos em janeiro. A escassez se formou durante boa parte deste ano, com os níveis historicamente baixos dos preços levando cafeicultores na América Central, Colômbia e Peru a abandonar seus cultivos e partir rumo às fronteiras dos Estados Unidos. Os futuros na ICE atingiram mínimas de 13 anos em maio, o que fez com que os preços no mercado físico em grande parte das regiões —com exceção do Brasil— ficassem abaixo dos custos de produção. Mais recentemente, com a alta das cotações, surgiram rumores de exportadores na Colômbia e no Brasil descumprindo contratos e pedindo a rolagem ou o cancelamento (com taxas) destes a importadores. “Ouvi dizer que algumas pessoas estão tentando prorrogar a entrega até a próxima safra”, disse José Marcos Magalhães, presidente da cooperativa brasileira Minasul, acrescentando que é possível que exportadores não consigam cumprir os contratos no prazo, seja pelos altos preços, seja pela falta de lotes de qualidade. Os preços do café no Brasil atingiram recentemente os maiores níveis desde janeiro de 2018, em termos reais (considerando a inflação), segundo dados da Esalq/Cepea, dissuadindo exportadores de compras.

Fonte: Reuters