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MAIOR EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR DESAFIA LOGÍSTICA

16 abril 2020

A safra sucroalcooleira 2020/21 do Centro-Sul do Brasil começou há uma semana já demonstrando sinais de forte aposta na exportação de açúcar, o que deve turbinar a pressão sobre os portos do Sul e Sudeste, que também estão escoando volumes recordes de grãos, justamente em um momento de mais cautela nos trabalhos portuários por causa da pandemia de coronavírus. Até quarta-feira, a fila de navios nos portos brasileiros que esperavam para carregar açúcar era de 22 embarcações, um aumento de seis em uma semana. Apenas no porto de Santos, principal via de escoamento da commodity, houve um acréscimo de quatro navios em uma semana na fila, somando 14 embarcações, conforme dados da agência marítima Williams Brazil. O volume de açúcar que estava programado para ser embarcado pelos navios que faziam fila nos portos até ontem era de 790,2 mil toneladas, bem acima do que os portos estavam acostumados para esta época do ano nos últimos dois anos, quando a produção brasileira estava bem mais alcooleira. Um ano atrás, os navios nos portos estavam programados para exportar menos de 450 mil toneladas. Na primeira semana do mês, a média diária de açúcar efetivamente embarcado superava a do mesmo período do ano passado em expressivos 87%, alcançando 108,87 mil toneladas diárias, de acordo com o dado semanal preliminar da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Esse forte crescimento é concomitante com aumentos também significativos nos embarques de soja e café, apenas para mencionar produtos do agronegócio. Ao longo da safra, a maior chance de ocorrência de gargalo é nas exportações via contêineres de açúcar branco ensacado, avaliou Jeremy Austin, diretor da trading Sucden, em debate virtual promovido ontem pela consultoria Datagro. A maior parte das exportações de açúcar ocorre por meio de navios graneleiros. A recuperação vertiginosa das exportações de açúcar após dois anos de volumes fracos pode gerar alguns gargalos no processo de estufagem (carregamento) de contêineres nos portos, já que, nos últimos anos, parte da capacidade ociosa de estufagem acabou sendo “desligada”, com fechamento de terminais ou redução de área, observou Felipe Ferraz, diretor da trading de açúcar RCMA Group no Brasil, que também participou do debate. Também há preocupações com a disponibilidade de contêineres nos mares, já que muitos ficaram parados em países que implementaram lockdown, como o Vietnã e a Índia, acrescentou. Até ontem, os embarques pelos portos de Santos e Paranaguá programados para os navios nas filas eram apenas de açúcar bruto (VHP), enquanto algumas cargas de açúcar refinado ainda estão saindo pelos portos do Nordeste. Mas, dado o prêmio que está sendo oferecido no mercado pelo açúcar branco, as usinas do Centro-Sul podem avançar na produção e exportação do cristal e refinado, segundo os traders. Essa pressão adicional nos portos ocorre ainda em um momento em que os operadores buscam se adaptar às regras para evitar a propagação do coronavírus. No sábado, o governo editou uma medida provisória (MP 94/2020) proibindo os órgãos gestores de mão de obra de escalarem trabalhadores avulsos com sintomas da covid-19 ou em grupos de risco, que passam a ter direito a indenização de 50% da renda. A medida permitiu a contratação de outros trabalhadores, com vínculo de até 12 meses.

Fonte: Grupo ideia