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Manejo do psilídeo dos citros, Diaphorina citri

14 agosto 2020

O controle do psilídeo Diaphorina citri, inseto vetor das bactérias associadas ao Huanglongbing (HLB) ou Greening, é um uma das principais medidas para manter a incidência da doença em baixos níveis. O manejo deste inseto é baseado no monitoramento, controle químico, físico/cultural e biológico. Existem diversas formas para o monitoramento do psilídeo, sendo que o cartão adesivo amarelo é o mais importante, principalmente em áreas onde é realizado o controle químico, pois os cartões detectam a presença do psilídeo mesmo em baixos níveis populacionais (até 30 vezes mais que a inspeção visual). Este método de monitoramento é baseado na atração visual. Portanto, para uma maior eficiência, os cartões adesivos devem ser instalados entre o terço médio e superior, e parte externa da copa das árvores de citros (extremidade dos ramos). Estes devem ser colocados, preferencialmente, nas bordas da propriedade e talhões, para determinar os locais da propriedade e as épocas de maior ocorrência do psilídeo. Com base no histórico de capturas de psilídeos, é estabelecida a frequência de pulverização para cada talhão e/ou setor da propriedade. Também pode ser realizada a inspeção visual. Neste caso, deve-se avaliar de 3 a 5 brotações/planta em 1% das plantas do talhão, preferencialmente localizadas na periferia das propriedades e bordas dos talhões. Nesta avaliação, o inspetor deve ser previamente treinado para identificar ovos, ninfas e adultos do psilídeos. No entanto, este método não é eficiente em áreas onde o controle químico é adotado com frequências iguais ou superiores a duas pulverizações/mês. Por outro lado, nestas áreas, a inspeção visual pode ser utilizada como indicador da qualidade das pulverizações, pois a presença de ninfas, principalmente de 4º e 5o ínstares, é um indicativo de falha no sistema de pulverização. Caso isso ocorra, o citricultor deve verificar se a dose, o inseticida, o volume de calda aplicado e a regulagem do pulverizador foram ajustados corretamente. Para ambos os métodos de monitoramento, a frequência ideal de pulverização é semanal. Contudo, pode ser realizada a cada duas semanas, não podendo ultrapassar esse período. O Alerta Fitossanitário, criado pelo Fundecitrus, é uma ferramenta para auxiliar os citricultores no manejo regional do HLB. Atualmente, no sistema, estão cadastradas 31.000 armadilhas, que são avaliadas e trocadas quinzenalmente. Com os dados inseridos no sistema, o Fundecitrus disponibiliza mapas de ocorrência do psilídeo (Figura 1), desenvolvidos em parceria com a Embrapa, com base no histórico de capturas do inseto. Os mapas estão disponíveis no site do Fundecitrus: www.fundecitrus.com.br/alerta-fitossanitario. Estes mapas possibilitam que o citricultor acompanhe a flutuação populacional do psilídeo em cada região do cinturão citrícola e identifique os momentos em que deve intensificar o controle do inseto. Além disso, com os dados do Alerta Fitossanitário, foi possível demostrar que os maiores picos populacionais do psilídeo no Estado de São Paulo ocorrem entre o fim do inverno e durante primavera, sendo que 96% dos psilídeos coletados são provenientes de áreas sem e/ou com baixo manejo deste inseto. Este também é o período de maior emissão de fluxo vegetativo, fase em que a planta está mais suscetível à inoculação das bactérias pelo psilídeo. Consequentemente, este é o período de maior risco de disseminação do HLB e momento em que os citricultores devem realizar um controle mais frequente do psilídeo. O controle químico é o método mais utilizado e eficiente para controlar o psilídeo. Diversos inseticidas já foram testados contra este inseto, sendo os neonicotinoides, piretroides e organofosforados os grupos químicos mais utilizados. Informações sobre efetividade dos inseticidas para o controle do psilídeo podem ser encontradas no Guia de Controle Químico (www.fundecitrus.com.br/comunicacao/manuais). É muito importante que o citricultor faça a rotação dos inseticidas com diferentes modos de ação, para evitar a seleção de populações de psilídeos resistentes aos inseticidas. Além disso, os citricultores que fornecem frutos para indústria de suco ou para exportação de fruta in natura devem utilizar os produtos que constam na ProteCitrus (Produtos para Proteção da Citricultura), antiga Lista PIC (Produção Integrada dos Citros). Esta lista contém os produtos em conformidade com os principais países importadores. O controle químico não previne a chegada do psilídeo no pomar, mas, em muitos casos, além de controlar o inseto, consegue reduzir a inoculação das bactérias. Isso ocorre pelo fato de alguns inseticidas químicos interferirem negativamente no comportamento alimentar do psilídeo, momento em que ocorre a transmissão. Esse fato é observado, principalmente, para os inseticidas que apresentam efeito de “choque” e residual mais longo. Contudo, o crescimento rápido das brotações e a ação das chuvas no pomar reduzem o residual dos inseticidas rapidamente e, consequentemente, sua efetividade em reduzir a inoculação. Para minimizar este problema, é necessário que o produtor realize uma maior frequência de pulverização. Para que isso seja possível, recomenda-se o ajuste do volume de pulverização terrestre. Estudos realizados pelo Fundecitrus demonstraram que os volumes de 25 a 40 mL de calda/m3 de copa, utilizando a concentração (g ou mL de ingrediente ativo/L água) recomendada na bula, são suficientes para o controle de adultos do psilídeo (mortalidade≥80%). Isso pode representar uma redução de até 70% na quantidade de água e inseticida utilizada por aplicação por hectare quando comparada aos volumes que eram tradicionalmente utilizados na citricultura. Assim, para frequência de pulverização de 7 dias, a recomendação é utilizar o volume de 25 mL/m³ de copa. Para pulverizações quinzenais e mensais, recomendam-se 40 mL/m³ de copa, pois esse volume de calda apresenta período de controle do psilídeo semelhante a 70-80 mL/m³ de copa. Isso permite que o citricultor utilize o volume de calda ideal para cada frequência de pulverização, possibilitando aplicações mais assertivas, com ganhos econômicos e menor impacto ambiental. O produtor deve ter atenção especial com os pomares em formação (0-36 meses), pois vegetam mais frequentemente e, consequentemente, são mais atrativos aos psilídeos e suscetíveis à inoculação das bactérias. Neste caso, além das aplicações de inseticidas via pulverização, é necessário que sejam realizadas aplicações de inseticidas sistêmicos via drench ou tronco. O citricultor deve realizar a primeira aplicação de inseticida sistêmico no fim do inverno (primeiras chuvas e intumescimento das gemas) e uma segunda aplicação após 45 dias. O objetivo é que estes pomares estejam com uma máxima proteção durante os meses de agosto-novembro. Uma terceira e/ou quarta aplicação de inseticida sistêmico poderá ser realizada no verão e/ou início do outono, contudo, sempre associada ao fluxo vegetativo. Porém, as duas primeiras aplicações são as mais importantes, pois irão ajudar a proteger o pomar durante o momento crítico de disseminação do HLB. O citricultor sempre deve iniciar as aplicações via drench ou tronco pelas áreas críticas, como talhões de borda com maior captura de psilídeos nos cartões adesivos amarelos. Nos últimos anos, o Fundecitrus vem estudando outras táticas de manejo do psilídeo mais sustentáveis. Nesse sentido, a cobertura de plantas com filme de partículas minerais surge como uma opção promissora. Um dos minerais utilizados para esta finalidade é o caulim processado (Surround). Este produto é composto por silicato de alumínio, não tóxico, não abrasivo, de granulometria pequena (1µm) e próprio para pulverização (formulação WP). Isso é importante, pois existem outros caulins, que não são adequados para pulverização, podendo afetar os pulverizadores e desenvolvimento da planta (partículas maiores). O caulim processado repele o psilídeo, além de interferir negativamente na alimentação deste inseto e, consequentemente, apresenta potencial para a redução das bactérias nas plantas pelo psilídeo. Estudos em andamento (28 meses) em pomares comerciais demonstraram que pulverizações com Surround a 2% reduziram a população do psilídeo e incidência do HLB em torno de 40%. Para uma maior proteção, o produto pode ser aplicado durante todo o ano (ex. pomar em formação) ou somente no período de maior dispersão do psilídeo (segunda quinzena de julho a primeira quinzena de novembro). Com relação ao controle biológico, estão sendo estudados fungos que controlam ninfas e adultos do psilídeo (mortalidade≥70%). Dentre estes, destaque-se Isaria fumosorosea, pois, além de controlar o psilídeo, tem a capacidade de reduzir a população do ácaro da leprose (≈70%) e outras pragas dos citros (ex. pulgão e cochonilhas). Este fungo pode ser utilizado no manejo interno e em áreas externas à propriedade. Outro agente de controle biológico é a vespinha Tamarixia radiata. Diferente dos fungos, a vespinha é utilizada em áreas externas, pois ela ataca somente as ninfas do psilídeo. Além disso, é altamente sensível a resíduos de inseticidas. Neste caso, o conceito é liberar em áreas externas para reduzir a população do psilídeo nestes locais e, consequentemente, reduzir a migração do inseto para os pomares comerciais. Contudo, a liberação da vespinha somente deve ser realizada quando não for possível substituir as plantas de murta ou citros por outras frutíferas e/ou ornamentais que não são hospedeiras do psilídeo. Figura 1. Mapas de ocorrência do psilídeo, Diaphorina citri.

Marcelo Pedreira de Miranda (Pesquisador Científico do Fundecitrus)
Haroldo Xavier Linhares Volpe (Pesquisador Científico do Fundecitrus)
Ivaldo Sala (Engenheiro Agrônomo do Fundecitrus)