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TENDÊNCIAS PARA O MERCADO DE BIODIESEL EM 2020

12 março 2020

Nos mais recentes leilões de biodiesel, os preços vem se mantendo acima do patamar inédito de R$ 3 por litro, em um momento do aumento da demanda pelo biocombustível e pela soja no mercado internacional. E como programado, o país avança na elevação do percentual obrigatório, com o início da vigência do B12 (12%), reforçando as dúvidas sobre qual será a trajetória dos preços este ano. A alta teve um personagem de peso, a China. O país asiático, praticamente, interrompeu a compra de soja dos Estados Unidos, em meio à guerra tarifária com a administração de Donald Trump, o que turbinou as importações de grãos do Brasil. A China foi o destino de quase 80% da safra brasileira de soja em 2019, principal matéria-prima do biocombustível. O aquecimento da safra de soja 2019-2020, contudo, conta como um fator positivo para conter a escalada dos preços. A especialista em Inteligência de Mercado da INTL FCStone, Ana Luiza Lodi, entende que uma queda já no primeiro semestre é factível. “O crescimento da oferta do grão para esmagamento resultará em uma maior disponibilidade de óleo de soja no mercado. Historicamente, nos meses de março, abril e, especialmente, maio é quando acontece mais esmagamento de soja. Sendo assim, a expectativa é que o preço do biodiesel fique abaixo de R$ 3 nos próximos meses”, explica. A INTL FCStone antevê uma safra recorde, de 124,2 milhões de toneladas de soja em 2019-2020. Em outubro, o preço médio do litro ultrapassou pela primeira vez a casa dos R$ 3, negociado a R$ 3,075. De lá para cá, foram realizados mais dois leilões (L70 e L71), com o biodiesel negociado a R$ 3,012 e R$ 3,002, respectivamente. Os leilões são bimestrais e há mais quatro previstos para este ano. O cenário, contudo, ainda é de incertezas. Os EUA e a China firmaram um acordo, ainda não detalhado, no qual Pequim promete comprar ao menos US$ 12,5 bilhões adicionais em produtos agrícolas dos americanos em 2020, com potencial efeito contrário na demanda por soja brasileira. “Quanto ao segundo semestre, as dúvidas permanecem. É cedo para dizer como a China irá se comportar saindo da peste suína africana e o que ficou acertado no acordo com os EUA”, afirma Ana Luiza Lodi. A analista acredita que a soja brasileira continuará com espaço no mercado chinês. O país asiático foi o epicentro da contaminação pelo novo coronavírus ao mesmo tempo em que teve que lidar com a peste suína africana, que atingiu a produção de porcos no país. O sucesso no controle das doenças – o número de novos casos de Covid-19 está em queda –, será o sinal para recuperação da atividade econômica interna na China e, neste cenário, o preço do biodiesel tende a subir. “Acreditamos que nos próximos meses, o mercado interno chinês se normalizará voltando ao patamar de consumo pré-coronavírus, o que deverá sustentar o aumento da cotação da soja em Chicago”, afirma Erickson Oliveira, analista de mercado da consultoria Céleres. O analista lembra que a desvalorização do real colabora para a exportação e a Céleres acredita que o câmbio deve permanecer acima do patamar de R$ 4,20 ao longo de 2020. Nesta quinta (5), o dólar fechou a R$ 4,65, a despeito de três operações de swap cambial, no valor equivalente a US$ 3 bilhões, promovidas pelo Banco Central. Para Oliveira, esses fatores, combinados com o aumento da demanda interna por biodiesel, devem sustentar os preços do biocombustível acima de R$ 3, nos próximos leilões. Leilões de biodiesel marcados por questionamentos Em anos recentes anos, várias empresas do segmento de biodiesel paralisaram suas atividades, em especial as de menor porte, que tiveram dificuldades em ofertar o biocombustível a preços competitivos nos leilões. De acordo com a Empresa de Pesquisas Energéticas (EPE), “as companhias verticalizadas se mantêm economicamente mais estáveis que as pequenas, não verticalizadas. Contudo, há um movimento no sentido de tornar obrigatória a aquisição de biodiesel produzido pelos pequenos produtores, o que possibilitaria a sua manutenção no mercado”. A EPE publicou nesta semana um nota técnica sobre o mercado de biodiesel. Nesta quarta (4), o projeto protocolado pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP/RS), trata exatamente desta questão. Determina que o biodiesel voltado à adição obrigatória, necessariamente, deve ser fabricado a partir de matérias-primas nacionais, preferencialmente, produzidas por agricultores familiares. Além de fixar, em lei, o calendário atual de adição de biodiesel, o deputado propõe a extensão da política para atingir o B20 até 2028. Unidades de pequeno porte chegaram a pedir a impugnação do L71 – o 71º Leilão de Biodiesel promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) –, mas desistiram. As empresas Biopar Parecis, Bio Vida, Brejeiro, Prisma e Unibras entendiam que a portaria MME nº 311/2018, que define produtores de pequeno porte e garante prioridades de compra, estaria sendo descumpridas. Elas desistiram das ações e o L71 foi homologado. Antes desse episódio, houve também a anulação de etapas comerciais do L70, por conta de um pedido da Aliança Biocombustíveis. A usina instalada em Rondonópolis (MT) ocupava a lanterna do mercado de biodiesel, com capacidade instalada para fabricar apenas 3,6 milhões de litros por ano, segundo informações do BiodieselBr. (EPBR, 5/3/20) A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) estima que serão adicionados 1,4 bilhão de litros de capacidade de produção do biocombustível em 2020. Além da necessidade de instalação de novas plantas, a tendência do mercado de biodiesel é diversificar as fontes de matéria-prima e desenvolver novas formas de produzir diesel renovável. Nesta semana, entrou em vigor a elevação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel de petróleo para 12%, o B12, de acordo com o cronograma aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). “Com a mistura mínima obrigatória B12, estimamos que em 2020 serão consumidos cerca de 7 bilhões de litros de biodiesel”, explica Donizete Tokarski, superintendente da Ubrabio. A expectativa representa um aumento de cerca de 1 bilhão de litros na demanda deste ano, um crescimento de 17% em relação a 2019 e está alinhada com a previsão da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), presente no Plano Decenal de Energia (PDE) 2029. “Nossa perspectiva é que um novo marco regulatório seja construído nos próximos anos para continuidade da evolução gradual de 1% ao ano (a.a) para que, a partir de 2024, entre o B16 e, sucessivamente, com crescimento de 1% a.a, alcancemos o B20 em 2028”, conta Tokarski. Esse plano está previsto no projeto de lei protocolado esta semana por Jerônimo Goergen, que amplia o cronograma obrigatório de entrada biodiesel no mercado para 2028, com o 20% de mistura (B20). De acordo com a Ubrabio, oito unidades de produção estão em processo de ampliação, para adicionar mais 600 milhões de litros/ano à capacidade total. Outras oito usinas estão sendo construídas, incorporando 1,9 bilhão de litros/ano”. Tokarski acredita que, ainda em 2020, o total de incremento entre ampliações e novas unidades será de 1,4 bilhão de litros/ano, elevando a capacidade de produção anual para 11,4 bilhões de litros. Esse volume é suficiente para atender a demanda projetada pela EPE em 2029, mas sem folga. No plano decenal, estimativa é que a capacidade atinja 13,7 bilhões de litros no período. Novas fontes de matéria-prima A busca por novas fontes de matéria-prima para produção de biodiesel também pode ser uma alternativa para atender essa demanda crescente. Pelo menos 77% da produção do biocombustível têm como fonte o óleo de soja. Para 2020, espera-se que sejam destinadas 9 milhões de toneladas de soja para produção de óleo, dos quais 53% serão destinados para a produção de biodiesel. “Projetamos um leve aumento da ordem de 3% a 4% no uso óleo de soja no biodiesel brasileiro, em relação a 2019”, estima Erickson Oliveira, analista de mercado da consultoria Céleres. Porém, para o analista, a relevância do grão tende a ceder espaço. “Parte do protagonismo da soja será suplantado pela gordura animal, ajudando a manter o setor competitivo”, explica. Atualmente, o sebo bovino é a segunda matéria-prima mais utilizada para a obtenção de biodiesel no Brasil. Um dos exemplos é a JBS Biodiesel, braço energético da JBS, uma das líderes mundiais no processamento de proteína animal. A empresa é a maior produtora verticalizada de biodiesel a partir de sebo bovino no mundo, e possui duas unidades de produção. “Para 2020, já temos aprovado investimento de R$ 13 milhões para modernização das nossas unidades produtivas em operação, localizadas em Lins (SP) e Campo Verde (MT)”, afirma o diretor da JBS Biodiesel, Alexandre Pereira. O investimento vai permitir um incremento de aproximadamente 25% da capacidade produtiva atual. Em 2019, a JBS comercializou 274 milhões de litros de biocombustível, o que coloca o grupo entre os 20 maiores produtores de biodiesel do país. A companhia está investindo R$ 180 milhões para construção de uma nova unidade, em Mafra, Santa Catarina, que utilizará gordura de frango e porco produzida na subsidiária Seara. “A nossa expectativa é muito positiva. O mercado de biocombustíveis vem crescendo de forma sustentável no Brasil”, acredita Pereira.

Fonte: EPBR