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VAI SOBRAR MILHO NOS ESTADOS UNIDOS
20 abril 2020O mercado de etanol nos Estados Unidos tem sido fortemente impactado pela redução do consumo de combustíveis na esteira das medidas de contenção da pandemia da covid-19 e também pela queda de 47% nos preços do petróleo desde o início de março, o que teve seus reflexos nos preços da gasolina e, consequentemente, no valor do etanol recebido pelas usinas norte-americanas. A cotação do etanol nos Estados Unidos atingiu o menor nível desde 2007, com o contrato de 1º vencimento na CME negociado ao redor de USD 0,90/galão na última quinta-feira (9/4), queda de quase 30% em relação ao início de março, levando as margens do setor para um dos patamares mais baixos já registrados. O resultado disso é que a produção do biocombustível na semana findada em 3 de abril foi 35% inferior ao produzido na primeira semana de março, alcançando a marca de 106,9 mm litros por dia, de acordo com a EIA (Energy InformationAdministration). E por que esse movimento é importante? Isso é relevante pois as usinas de etanol absorvem 37% da produção de milho norte-americano. Portanto, uma redução da demanda local pelo grão deverá deixar os estoques de passagem na safra 19/20 em patamares maiores que o previamente esperado e pressionar ainda mais as cotações do milho em Chicago. De fato, o USDA em seu relatório do Wasde publicado na última quintafeira (9/4) revisou para baixo o uso de milho para etanol nos Estados Unidos em 7% e aumentou os estoques de passagem em 10%, ambos para a safra 19/20, sobre o que foi divulgado pela instituição em março. E tudo isso após o próprio USDA em seu relatório de intenção de plantio para a safra 20/21 nos EUA, publicado em 31 de março, ter projetado uma área plantada de milho 8% superior à safra anterior (ano em que parte da área foi deixada de plantar por problemas climáticos) e maior que a média esperada pelo mercado, o que poderá deixar o balanço norte-americano muito folgado na safra vindoura. Por mais que se possa esperar que a baixa demanda por etanol e a consequente redução da atratividade do milho deverá afetar negativamente decisão do produtor americano sobre o plantio em relação às primeiras estimativas, as nossas simulações indicam que a queda de área teria que ser pior do que o nosso cenário alternativo para que os estoques finais da safra 20/21 permanecessem próximos dos níveis da safra 19/20 e, assim, sustentassem as cotações. É importante termos em perspectiva que a migração de área para soja pode não ser tão grande pois os níveis de rentabilidade da oleaginosa também são baixos e há uma preferência revelada do produtor americano pelo plantio de milho. Consequentemente, não se pode descartar a possibilidade de que os preços futuros do milho em Chicago cedam mais, e, por conseguinte, afetem o valor da paridade de exportação do milho no Brasil. Além disso, os prêmios que as cotações no Brasil possuem hoje sobre a paridade de exportação poderão cair. Isso porque o próprio balanço brasileiro está sendo revisitado diante das incertezas sobre a taxa de crescimento da demanda doméstica do milho. Em que pese o fato de esperarmos que a relação entre oferta e demanda deverá seguir apertada no Brasil – mesmo assumindo uma boa produção na safrinha –, não podemos desconsiderar os efeitos que os baixos preços do etanol e a desaceleração da economia poderão ter sobre a consumo do grão no mercado local, o que pode levar a um estoque de passagem maior que o esperado. Diante desse cenário, é recomendável que o produtor no Brasil fique atento às oportunidades de mercado para se proteger de possíveis ventos contrários aos preços do milho. Atualmente, fixações para a safrinha 19/20 e para a safra 20/21 ainda implicam em margens bastante atrativas.
Fonte: Consultoria Itaú Agro